segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A DOBRADINHA FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO

     A escola entra numa nova era, em relação à transmissão do conhecimento. Ressalta determinados comportamentos já sacramentados pela metodologia, como a interdisciplinaridade e a contextualização do currículo. Interliga as áreas do saber e busca soluções práticas dos problemas cotidianos.
Essa nova abordagem do conteúdo é parte integrante das inovações pedagógicas. Ela se encontra inserida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, agora, o exame vestibular da Fuvest colocou em seus planos modificações desde o fim de 2001.  Quer uma prova que se aproxime mais do Enem, com mais raciocínio, mais resoluções de problemas e menos fórmulas. Uma prova com inter-relação das disciplinas, elegendo grandes áreas e conteúdos mais próximos do vestibulandos. Quer medir menos conteúdo e mais competência e habilidade para atender às exigências práticas da vida moderna.  Aliás, no ano de 2002 já foi notada a diferença, com o exame vestibular exigindo mais raciocínio.
Os professores sentem a mudança, a necessidade de renovação no processo pedagógico, mas não sabem como aplicá-la. Estão, ainda, muito presos à informação, têm dificuldades em formar um aluno capaz de aplicar, no dia-a-dia, em casa, no trabalho, o que aprendeu na escola. Têm dificuldades para desenvolver inteligências múltiplas, as competências e as habilidades, fazer os alunos chegarem, eles mesmos, a conclusões e não fornecê-las prontas. Têm dificuldades em aplicar o construtivismo.
A esse aspecto cognitivo da formação, há o aspecto comportamental, da formação do caráter, da convivência pacífica, da passagem dos valores éticos, espirituais, com acentuação maior nos primeiros anos de escolaridade.
Os professores sentem, mas não sabem como ensinar pelo processo do diálogo, do encadeamento do conhecimento e sua interligação; não sabem como passar da teoria à prática, como aproximar a ciência de vida dos estudantes, como privilegiar as atividades práticas.
É preciso arregimentar forças. Iniciativas para preparar o professor à formação devem ser programadas e concretizadas.  A ausência de apoio técnico força o professor a repetir o mesmo modelo de aula, recebido enquanto estudante, quer na educação básica, quer no ensino superior. As próprias faculdades continuam presas ao ensino tradicional, de aulas expositivas, elaboradas pelo professor, de conteúdos memorizados, num procedimento incapaz de motivar o aluno de hoje, de levá-lo a uma reflexão, a uma interiorização maior.
O professor foi formado pela escola do “magister dixit” (o professor fala, o aluno escuta), enquanto, presentemente, sabemos que a diferença está entre professor que faz e professor que manda fazer. Esse proceder forma o jogo do pingue-pongue, que se inicia na sala de aula da educação básica, vai à sala de aula da faculdade e retorna à sala de aula da educação básica, numa repetição freqüente.
Uma grande dificuldade, relatada pelos professores, refere-se ao ensino como módulos de disciplinas, as chamadas áreas de conhecimento, conforme prevê a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Eles  não sabem como transitar entre os diversos assuntos. Pela lei, enfraquecem-se as chamadas disciplinas específicas, fortificam-se os núcleos de estudo, integrados nas  Diretrizes Curriculares Nacionais.
O que se quer é um currículo escolar montado em áreas de conhecimento e não em um conjunto de disciplinas específicas. As áreas de conhecimento abrangem os diferentes conteúdos, das diferentes disciplinas, de conformidade à área estipulada. No ensino médio, temos: “Linguagem e Código”, “Ciência e Tecnologia” e “Assuntos Sociais” e todas as áreas agrupam matérias afins.
Através das áreas de conhecimento, a escola monta um currículo flexível, oportuniza a introdução de assuntos relacionados ao momento histórico do ensino, como nos dias de hoje, a clonagem, as guerras, o terrorismo, exigindo uma reordenação humana, econômica, de caráter mundial. A introdução de temas transversais, como ética, cidadania, meio ambiente, pluralidade cultural, sexualidade, droga... mantendo no currículo uma visão pragmática, um ensino prático, que se distanciam da visão culturalista, enciclopedista. Um ensino que propicie criar, ousar, fatores chaves para se competir no mundo globalizado.
Nessa linha de consideração, alertem-se, também, os cursos de reciclagem do professor, que, ainda, se caracterizam por atuar nos moldes tradicionais: mantêm-se presos à informação, não planejam atividades práticas, abordam, no discurso, aspectos formativos, trazendo, desta feita, contribuição retraída para a metodologia renovada.
Esses cursos precisam colocar o professor na realidade de sua prática educativa, discutir o mundo contemporâneo, as diferentes classes sociais que tomam conta do espaço escolar, estudar estratégias que busquem uma aproximação entre elas, um entendimento, na compreensão da diversidade cultural e econômica, um comportamento solidário, sem preconceito. Dar armas ao professor para interferir nessa realidade desnivelada, criando entre professor e sociedade uma inter-relação de comunicação e de responsabilidade. Estudar, em conjunto, uma pedagogia capaz de responder favoravelmente à diversidade,  projetando atividades alternativas na área do ensino.
O curso normal superior, o curso de pedagogia, os cursos de reciclagem, devem programar-se para ativar a prática educativa, tornando-se menos teóricos. Chegar, através da informação, à formação, elemento básico da educação, da renovação dos métodos de ensino, imprescindível para atingir a classe economicamente desfavorável e contribuir, efetivamente, para a transformação social.
 É preciso que se abrace o espírito da Lei maior da educação,  as linhas norteadoras da reforma de ensino, se quisermos que ela venha ocorrer realmente.

(Capítulo do Livro Prática Pedagógica, escrito por Izabel Sadalla Grispino)


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